"Tive que tomar tapa, tive que tomar socão, pra ver que a caneta é a minha munição", Mc Lalão do Tds, Princesa do Gueto


No ultimo domingo, 29 de agosto, Dia da Visibilidade Lésbica, MC Lalão do TDS lançou seu primeiro videoclipe com a música “Princesa do Gueto”, produzida pela DJ e produtora musical Badsista (Linn da Quebrada, Jaloo). 

Cantora e compositora de funk desde 2017 e autora da música “Papaléguas”, Lalão acredita na potência de “Princesa do Gueto”. “A mensagem que eu quero passar com a minha música é de superação. Mostrar que você pode sair de uma coisa ruim, pode ter sonhos e conquistar o que quiser. Eu falo dos meus sentimentos, da minha realidade”, conta.

Mulher lésbica no Funk Consciente, ela expõe em letras fortes e diretas os obstáculos e conquistas na quebrada que a trouxeram até aqui. “Eu tive que apanhar da vida em todos os sentidos. Não só da polícia, mas de parente, de gente na rua, pra ver que o crime e as drogas não valem a pena. Quando eu canto que ‘a caneta é a minha munição’, isso significa um tiro na cabeça do sistema, da sociedade. Que não vai ser usando droga ou roubando que eu vou estar me munindo”, diz a MC.

Para retratar a realidade que vive, MC Lalão fez questão que o clipe fosse gravado nas ruas de Taboão da Serra, sua cidade natal. “Gravei uma parte no Cristo de Taboão, na rua de casa, na tabacaria com uns amigos meus. Mostrar o que eu vivo e onde eu tô”. Mas acrescenta que a cena com a BMW, a Mercedes e a moto XJ6 (que custa cerca de 30 mil reais), não estava nos planos. “Uns amigos meus apareceram lá com os carros e a moto, aí nóis deu um peão pela quebrada e ele saiu me apresentando pra várias pessoas. Quando a gente voltou, tava todo mundo com a maior cara, né. Eu saí do meio do clipe pra dar um rolê de carro.”

A cantora desabafa também que “não tem espaço nenhum pra mulher no funk, quem dirá lésbica”. Por isso, ressalva a importância do apoio entre mulheres na cena, em especial da DJ e produtora musical Badsista, a mulher por trás de Princesa do Gueto. “Eu conheço a BADSISTA desde 2016, mas no final de 2020 eu encontrei ela no Capão [Redondo] e a gente trocou uma ideia de como a música tava me ajudando. Aí ela falou ‘vamos fazer um som seu’.  Gravamos e ela me deu muita assistência, porque era a quarta vez que eu ia em um estúdio. E aí o trampo ficou louco”.

A escolha de lançar a música e o clipe no dia da Visibilidade Lésbica surgiu da importância dessa data para a comunidade, que em 1996 realizou o 1ª Seminário Nacional de Lésbicas em prol de exigir de governantes políticas públicas que auxiliem na inclusão dessas mulheres. “É foda porque as pessoas não tem uma data pra falar do ‘Dia da Visibilidade Hétero’, por exemplo. É uma data que não existe porque os héteros tão aí, visíveis. O 29 de agosto é importante pra mim porque eu não só comemoro a Visibilidade Lésbica, mas também comemoro a minha vida. Como uma mina lésbica, de quebrada, não-feminina, negra. Pra mim estar viva aqui é muito importante”, diz ela.

O clipe será o primeiro de MC Lalão do TDS e está disponível no YouTube e em todas as plataformas digitais. “Meu grande sonho dentro da música é conseguir viver de música, passar a mensagem pra pessoas que têm problemas com alguma coisa e mostrar que dá pra sair disso”, conta Lalão.

Assista:

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Materia Sobre:::.RACIONAIS E OS 17 ANOS DE HOLOCAUSTO