#Referenciana - Quebrada Queer, chega quebrando tudo em "Pra quem duvidou"
Quebrada Queer chamou atenção no mês de junho, pelo clipe maravilhoso que lançaram pelo canal RapBox, a produção de Vibox levando a gente, e as linhas pesadas de cada integrante deixou um gostinho de quero mais em todas e todos que ouviram, gostando ou não, foi um desabafo, pesado, que deixou muita gente "atenta" hahaha pois bateram 1 milhão e meio de visualizações em menos de 3 meses.
E ontem, dia 3 de setembro, foi dia de lançamento, o novo single “Pra quem duvidou” é uma mistura de críticas, com resposta aos críticos e a ideia de continuidade do primeiro trabalho. Ouça abaixo:
Formado por Guigo, Harlley, Lucas Boombeat, Murillo Zyess e Tchelo Gomez, além da DJ e produtora musical Apuke, que assina a produção do novo single, Quebrada Queer me impressiona e cativa bastante pela forma que a interpretação e presença de cada integrante toma proporções fodas. Quando saiu o som eu ouvi, e sem o clipe ficou aquela sensação de faltava algo, embora tivesse curtido bastante. Mas ontem percebi que a imagem, a expressão tranquila de nem fazer careta pra variar nas técnicas de flow, isso cativa e ao mesmo tempo mostra força e qualidade.
Está no ar mais um #ReferenciAna, e nele você vai ler um pouco da minhas percepções do som Pra quem duvidou, além de conhecer um pouco mais sobre as referências utilizadas pelo Quebrada Queer. Confira a letra aqui.
Sempre bom lembrar, essas são minhas impressões pessoais e minha forma de entender a música e as informações dela, pode não ser a intenção das e dos artistas.
O primeiro a rimar é Murillo Zyess. Nas primeiras linhas dele, após parecer responder as tantas pessoas que deram opiniões que ninguém pediu sobre o último som "mais respeito pra falar das bixa, conserve seus dente", ele se auto referencia. A linha "réu inocentado da condenação dos crente" dialoga com o verso dele no primeiro som, onde ele diz "desvio de alguns crentes que dizem que eu vou pro inferno".
A próxima linha, me parece referenciar Racionais, em Expresso da meia noite, o verso "tô de role na quebrada" me remeteu ao Edi Rock (confira a entrevista do Murillo pro Bocada Forte, onde ele diz que o primeiro contato com o Rap foi através de Racionais), e a questão de referenciar grandes clássicos do rap, vem no sentido de também de dialogar com o verso do primeiro som, "subestimado desde o meu primeiro verso", porque acredito que esses grandes clássicos dos anos 90, 2000, foram produzidos em uma época de pouquíssimos avanços na questão de gênero e sexualidade. Referenciar esses sons, além de ser um pisão classudo de "cala boca que eu vim do mesmo lugar que você", ainda é uma quebra dessa ligação do rap noventista com a heteronormatividade.
O segundo a rimar é Guigo (confira a entrevista dele pro Bocada Forte), apesar de todos terem sido de alguma forma desrespeitados no último som, imagino que a referência de Guigo ao som Deus é travesti, de Alice Guél, no álbum Alice no País Que Mais Mata Travestis, foi a que mais recebeu críticas. Pessoas que não entendem a chamada a reflexão sobre a questão da violência, trazida no som original, o que importa é não usar o nome 'deus' em vão. Justamente se usando disso, Guigo inicia seus versos dando a ideia "Verdades sejam ditas, e hoje eu vim pra questionar". E na sequência ele dialoga com sua participação no outro som, "chamam de bíblia os versos da primeira cypher gay, Guigo virou papisa e hoje eu me canonizei". Retomando novamente a questão das violencias de gênero e sexualidade que são exorbitantes no Brasil, que se diz um país cristão, apesar de laico na constituição. A conta não fecha né? Ou pelo menos a ideia é que não deveria. Também lembrando que em 2015, a atriz transexual Viviany Beleboni fez um ato na Parada LGBTQs. Um ato de denúncia, justamente contra a violência contra LGBTQs, depois do ato Viviany foi esfaqueada e ameaçada por pessoas que não gostaram da encenação e nem entenderam a crítica rs. O Brasil é um país laico, com N religiões ou falta delas, mas ainda sim muitos dizem ser um país cristão pelo número de adeptos e pela confusão errônea que fazem entre política, relações sociais, liberdades individuais e respeito. Acredito ser um tanto quanto contraditório e hipócrita, dizerem ser um país cristão, com um argumento forte de que um homem por amor se sacrificou pra salvar todo o mundo sem distinção, ser também o país que mais assassina LGBTs no mundo, de forma violenta e odiosa.
A Papisa Joana foi uma "lenda", de uma mulher que teria governado como papa durante a idade média, teria sido a única mulher a ocupar o posto mais alto da igreja Católica. Quando ele diz que virou papisa e se canonizou, ele fala sobre ser reconhecido e "santificado" como representativo e um marco na história. E no último verso ele provoca a questão que muita gente do meio do rap, além de só considerar rap feito por homens héteros como bons e com qualidade, ainda cria uma categoria pra enquadrar o trabalho feito pelo Quebrada Queer, pra dizer que é tudo menos rap, Guigo lembra, que com a qualidade na letra e as técnicas apresentadas, ele é rei.
A Papisa Joana foi uma "lenda", de uma mulher que teria governado como papa durante a idade média, teria sido a única mulher a ocupar o posto mais alto da igreja Católica. Quando ele diz que virou papisa e se canonizou, ele fala sobre ser reconhecido e "santificado" como representativo e um marco na história. E no último verso ele provoca a questão que muita gente do meio do rap, além de só considerar rap feito por homens héteros como bons e com qualidade, ainda cria uma categoria pra enquadrar o trabalho feito pelo Quebrada Queer, pra dizer que é tudo menos rap, Guigo lembra, que com a qualidade na letra e as técnicas apresentadas, ele é rei.
A música volta pra Murillo, em forma de conclusão da ideia dele, ele traz "cês pira, mas no dia a dia me oprime", trazendo o fato de quem por exemplo compartilha o som do Quebrada num dia, no outro tá compartilhando "piada" de futebol homofóbica, ou mesmo algum rap que tenha conotação homofóbica, entre outras. E conversando com a ideia trazida por Guigo, ele manda "Percebe como é contraditório aquele que mata em nome de Deus?" pra finalizar sua participação.
O som também volta pra Guigo, e ele finaliza sua participação com o verso "Me queimam na estaca, mesmo sem saber rezar". Esse verso remete a questão da Inquisição, essa instituição era formada pelos tribunais da Igreja Católica que perseguiam, julgavam e puniam pessoas acusadas de se desviar de suas normas de conduta. Quando ele diz que é queimado sem saber rezar, ele traz essa questão da imposição de culto, como pode alguém julgar que o outro está desviando da conduta, se ele sequer acredita na mesma conduta?
Tchelo - vem - pesado pronto pra tumultuar! O terceiro a rimar no som é Tchelo Gomez. (Atenção pra virada no vídeo-clipe, que é maravilhosa). Para além da letra, Tchelo (confira a entrevista dele pro Bocada Forte) mostra sua versatilidade no flow, diferente do primeiro som, ele traz a questão de como Quebrada Queer incomoda mas ao mesmo tempo esse coletivo se protege, "Aqui são 6 facadas perfurando sua escrotidão" e "Aqui não apavora, não! Nas mana não encosta, não!". E finaliza sua participação referenciando HAAHHAHAH TRILHA SONORA DO GUETO! Pra quem conhece Trilha Sonora, e os fãs do grupo, sabe como essa sacada foi genial!
O penúltimo a rimar é Lucas Boombeat, o rapper que chamou a atenção no primeiro som, por ser uma mistura de bicha com maloqueira (definição usada na entrevista dele ao Bocada Forte).
Vestido ao estilo Xerxes, em 300, poderoso e cirúrgico, e com momentos de speedflow sem nem fazer careta, Lucas começa seus versos chamando a atenção pra questão da desvalorização por parte de quem se incomodou, "Eles reduzem as notas, eu canto e ele chora", aqui, sendo notas no sentido financeiro, ou notas de avaliação, podem ser diminuídas, eles vão continuar cantando. Posteriormente, ele toca em pontos como o assédio masculino para com eles, versos como "Guarda esse amendoim que faz mal pra mim", "Macho coça pau, Se achando uau, Pensa que é o tal, Cérebro sem sal, Quer biscoito, Toma!".
O último a rimar é Harlley, além de questionar a atitude de quem falou bastante sobre Quebrada Queer e não ofereceu jobs, (get ma money gente!), ele também retoma partes das suas rimas no último som. "Se emocionou com o meu pai mas é tua irmã que sofre, Não contestou a atitude escrota do teu parça", é uma chamada de atenção que dialoga com o verso "Esse é só o primeiro desabafo que tá entrando pra história, e com certeza, o meu pai não ia se orgulhar", destinado as pessoas que muitas vezes postam, defendem, assumem posturas bonitas com pessoas públicas, e não da conta de se posicionar da mesma forma com pessoas próximas, as vezes uma amiga ou um amigo que sofre violências das mais diverasas. E o verso seguinte "Riu da minha cara mas olha onde eu tô, onde tu sempre sonhou, mas tu desacreditou", dialoga com o verso "Agora eu quero ver quem tá somando por mim, tomou meu destino, quem constrói os degraus, sabe que não vai cair!".
O som volta pra Lucas, e ele finaliza sua participação em um speedflow, mencionando fatos da sua história pessoal, "Cada verso eu canto além do palco, descalço, no asfalto, aprende o que é ser rua numa que não seja a sua", além de mandar o recado pra quem tenta delimitar o rap, "Aprende o que é rap depois bate no peito
Se não soma some, que se foda seu vulgo ou nome, não pago pau pra nenhum homem, vai vendo".
O som volta pra Harlley, e ele finaliza sua participação reafirmando a ideia do coletivo "Nossa união fez força, quero ver quebrar" e dando caminho pra parte que geral canta, referenciando também o clássico Us mano Pow, as mina pá, do rapper Xis, mas reconfigurado também, "Minas gritando hey, monas gritam ho, pra quem duvidou, quebrada chega".
Vestido ao estilo Xerxes, em 300, poderoso e cirúrgico, e com momentos de speedflow sem nem fazer careta, Lucas começa seus versos chamando a atenção pra questão da desvalorização por parte de quem se incomodou, "Eles reduzem as notas, eu canto e ele chora", aqui, sendo notas no sentido financeiro, ou notas de avaliação, podem ser diminuídas, eles vão continuar cantando. Posteriormente, ele toca em pontos como o assédio masculino para com eles, versos como "Guarda esse amendoim que faz mal pra mim", "Macho coça pau, Se achando uau, Pensa que é o tal, Cérebro sem sal, Quer biscoito, Toma!".
O último a rimar é Harlley, além de questionar a atitude de quem falou bastante sobre Quebrada Queer e não ofereceu jobs, (get ma money gente!), ele também retoma partes das suas rimas no último som. "Se emocionou com o meu pai mas é tua irmã que sofre, Não contestou a atitude escrota do teu parça", é uma chamada de atenção que dialoga com o verso "Esse é só o primeiro desabafo que tá entrando pra história, e com certeza, o meu pai não ia se orgulhar", destinado as pessoas que muitas vezes postam, defendem, assumem posturas bonitas com pessoas públicas, e não da conta de se posicionar da mesma forma com pessoas próximas, as vezes uma amiga ou um amigo que sofre violências das mais diverasas. E o verso seguinte "Riu da minha cara mas olha onde eu tô, onde tu sempre sonhou, mas tu desacreditou", dialoga com o verso "Agora eu quero ver quem tá somando por mim, tomou meu destino, quem constrói os degraus, sabe que não vai cair!".
O som volta pra Lucas, e ele finaliza sua participação em um speedflow, mencionando fatos da sua história pessoal, "Cada verso eu canto além do palco, descalço, no asfalto, aprende o que é ser rua numa que não seja a sua", além de mandar o recado pra quem tenta delimitar o rap, "Aprende o que é rap depois bate no peito
Se não soma some, que se foda seu vulgo ou nome, não pago pau pra nenhum homem, vai vendo".
O som volta pra Harlley, e ele finaliza sua participação reafirmando a ideia do coletivo "Nossa união fez força, quero ver quebrar" e dando caminho pra parte que geral canta, referenciando também o clássico Us mano Pow, as mina pá, do rapper Xis, mas reconfigurado também, "Minas gritando hey, monas gritam ho, pra quem duvidou, quebrada chega".
É isso, espero que tenham chego até aqui. Lembrando mais uma vez que essas são piras pessoais minhas, e que pode não ter uma vírgula a ver com o que a ou o autor quis dizer.
Qualquer duvida ou mal entendido me chamem que a gente troca uma idéia.
Homofobia é coisa de pilantra, e no rap não tem que ter espaço pra pilantra. Deixem sugestões para os próximos #ReferenciAna, até mais!
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