O balé de Muhammad Ali por Marcello Gugu abre o #ReferenciAna 2018
A produção da faixa é do sempre incrível DJ Duh e conta com participação de Thiago Jamelão. “O Balé de Muhammad Ali” será parte do álbum “Índigo” que está previsto para lançamento em 2018.
Está no ar mais um #ReferenciAna, o primeiro de 2018, e nele você vai ler um pouco da minhas percepções do som O balé de Muhammad Ali, além de conhecer um pouco mais sobre as referências utilizadas por Marcello Gugu. Confira a letra na descrição do vídeo no YouTube, e ouça a música aqui:
Sempre bom lembrar, essas são minhas impressões pessoais e minha forma de entender a música e as informações dela, pode não ser a intenção do rapper.
De maneira geral, numa semana de lançamento do filme Pantera Negra, filme esse em que muito se levantou sobre referências, representatividade, os sorrisos e brilhos nos olhos se contrastaram com a ruga de preocupação com a sequência de notícias desanimadoras com as quais temos contato. Consumimos notícias ruins e experimentamos o bom da vida de maneira muito rápida e fluída, pra dar conta de não sucumbir pelo caminho. Acho que esse som de maneira geral fala sobre isso. Sobre as guerras que travamos dentro de nós, muitas vezes de maneira contínua, sem se dar conta. Gugu alterna suas metáforas entre representações positivas e negativas, pra evidenciar como essa dualidade é presente; o refrão cantado lindamente por Thiago Jamelão remete a esperança, do verbo esperançar, não de esperar.
A explicação do nome da música nos ajuda a visualizar esse contexto na letra. Muhammad Ali foi um dos maiores lutadores de todos os tempos, não só por ser bom, mas por ser inteligente, técnico e preparado. Em 1964, o jovem Ali com apenas 22 anos se preparava para lutar com o campeão mundial, Sonny Liston, e foi questionado sobre como ele pretendia vencer o adversário experiente, Ali respondeu “Voe como uma borboleta, ferroe como uma abelha. Suas mãos não podem atingir o que os seus olhos não podem ver”. Associar a beleza e a leveza dos movimentos das borboletas, mostra o lado mais humano em nós, que nos permiti sentir; a ferroada da abelha, vem no sentido de permanecer firme quando assim precisar. Apesar de a analogia com o comportamento dos insetos que as vezes assumimos, não podemos esquecer que insetos são seres frágeis dependendo do referencial, sendo assim, precisam se proteger dos ambientes tóxicos e os predadores.
No primeiro verso da música eu já peço perdão pelo textão, mas acompanhem meu raciocínio.
"Nós somos Cristo no deserto, a arma na mão do pai de Marvin. Os panos que limparam o sangue do rosto de Martin."
Bom, eu não sou católica, nem evangélica, e peço desculpas por qualquer interpretação errada da bíblia, porém, com ajuda do meu pai, consegui olhar pra esse verso. Os evangelhos falam sobre a passagem de Jesus 40 dias no deserto, sendo tentado pela figura do demônio cristão, que oferecia diversas negociações com a fé de Jesus, e ao final dos dias, Jesus manteve sua fé e não se rendeu. Quando Gugu diz que somos Cristo no deserto, ele reafirma como estamos a todo momento sob tentações do mundo, não só sobre "pecados" mas também sobre nós mesmos e a postura de ser firme até que necessário.
Marvin Gaye foi um ícone da soul music, o que não deveria ser novidade pra ninguém. Ele morreu em abril de 1984, após ser assassinado com um tiro dado pelo pai após uma discussão, com a arma que ele próprio havia o presenteado. Anos antes de morrer, Marvin enfrentava problemas com crises depressivas, dívidas entre outras coisas. Entendi esse verso de duas formas: a primeira delas, fazendo breve link com o anterior, ser a arma na mão do pai de Marvin, talvez tenha algo a ver com de fato nos encontrarmos e colocarmos um fim aos "40 dias do deserto", ainda que a arma não tenha sido empunhada por Marvin Gaye, foi uma "resposta" que colocou fim a tudo. A segunda interpretação que tirei foi no num sentido mais 'literal', cuja a arma que foi usada pra acabar com a vida dele foi algo dado por ele mesmo, ou seja o sentimento de responsabilidade com o retorno do que ofertamos ao mundo.
De maneira geral, numa semana de lançamento do filme Pantera Negra, filme esse em que muito se levantou sobre referências, representatividade, os sorrisos e brilhos nos olhos se contrastaram com a ruga de preocupação com a sequência de notícias desanimadoras com as quais temos contato. Consumimos notícias ruins e experimentamos o bom da vida de maneira muito rápida e fluída, pra dar conta de não sucumbir pelo caminho. Acho que esse som de maneira geral fala sobre isso. Sobre as guerras que travamos dentro de nós, muitas vezes de maneira contínua, sem se dar conta. Gugu alterna suas metáforas entre representações positivas e negativas, pra evidenciar como essa dualidade é presente; o refrão cantado lindamente por Thiago Jamelão remete a esperança, do verbo esperançar, não de esperar.
A explicação do nome da música nos ajuda a visualizar esse contexto na letra. Muhammad Ali foi um dos maiores lutadores de todos os tempos, não só por ser bom, mas por ser inteligente, técnico e preparado. Em 1964, o jovem Ali com apenas 22 anos se preparava para lutar com o campeão mundial, Sonny Liston, e foi questionado sobre como ele pretendia vencer o adversário experiente, Ali respondeu “Voe como uma borboleta, ferroe como uma abelha. Suas mãos não podem atingir o que os seus olhos não podem ver”. Associar a beleza e a leveza dos movimentos das borboletas, mostra o lado mais humano em nós, que nos permiti sentir; a ferroada da abelha, vem no sentido de permanecer firme quando assim precisar. Apesar de a analogia com o comportamento dos insetos que as vezes assumimos, não podemos esquecer que insetos são seres frágeis dependendo do referencial, sendo assim, precisam se proteger dos ambientes tóxicos e os predadores.
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Muhammad Ali 1942-2016 |
"Nós somos Cristo no deserto, a arma na mão do pai de Marvin. Os panos que limparam o sangue do rosto de Martin."
Bom, eu não sou católica, nem evangélica, e peço desculpas por qualquer interpretação errada da bíblia, porém, com ajuda do meu pai, consegui olhar pra esse verso. Os evangelhos falam sobre a passagem de Jesus 40 dias no deserto, sendo tentado pela figura do demônio cristão, que oferecia diversas negociações com a fé de Jesus, e ao final dos dias, Jesus manteve sua fé e não se rendeu. Quando Gugu diz que somos Cristo no deserto, ele reafirma como estamos a todo momento sob tentações do mundo, não só sobre "pecados" mas também sobre nós mesmos e a postura de ser firme até que necessário.
Marvin Gaye foi um ícone da soul music, o que não deveria ser novidade pra ninguém. Ele morreu em abril de 1984, após ser assassinado com um tiro dado pelo pai após uma discussão, com a arma que ele próprio havia o presenteado. Anos antes de morrer, Marvin enfrentava problemas com crises depressivas, dívidas entre outras coisas. Entendi esse verso de duas formas: a primeira delas, fazendo breve link com o anterior, ser a arma na mão do pai de Marvin, talvez tenha algo a ver com de fato nos encontrarmos e colocarmos um fim aos "40 dias do deserto", ainda que a arma não tenha sido empunhada por Marvin Gaye, foi uma "resposta" que colocou fim a tudo. A segunda interpretação que tirei foi no num sentido mais 'literal', cuja a arma que foi usada pra acabar com a vida dele foi algo dado por ele mesmo, ou seja o sentimento de responsabilidade com o retorno do que ofertamos ao mundo.
Martin Luther King Jr, um dos líderes do movimento pelos direitos civis e importante figura na luta antirracista, foi assassinado, com um tiro no queixo enquanto estava na cidade de Memphis para apoiar a greve de trabalhadores. "Os panos que limparam o sangue do rosto de Martin", pra mim o sangue de Martin naquele momento não era só sangue, no sentido biológico, mas uma "consequência" do ser, do fazer, do falar, do se posicionar. Lembrei da frase do Racionais, brigava por justiça e paz e levou um tiro. Os panos nesse contexto pra mim tem o sentido de coletivo, de se aproximar por dores em comum, ou vitórias que sejam. O pano que limpa o sangue literalmente, é algo pós e póstumo, e isso não pode acontecer.
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Martin Luther King Jr. |
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Viviany Beleboni |
Quando ele coloca em seguida o verso "o preço entre a maçã do Éden e e do smartfone", de certa forma complementa o verso anterior, já que segundo a bíblia, o mundo conheceu o pecado através da mordida na maçã por Adão e Eva, a maçã é no sentido de tentação oferecida pelo diabo cristão, dessa forma, cair em tentação tem um preço alto, tendo em vista que os smartfones com símbolo de maçãs são caros (não vou fazer propaganda, paga nóis!). O preço alto, não necessariamente a pessoa que cometeu, mas no sentido geral, de sociedade, grupo afetado, entre outros.
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Rosa Parks |
A ideia de resistência se reforça no verso seguinte. A cultura paquistanesa tem base num fundamentalismo religioso extremo, e é extremamente violenta com as mulheres, a ponto de serem punidas , mortas, torturadas, até por casar, se apaixonar. "Um topless no paquistão" não é no sentido literal de fazer um topless, mas talvez seja simplesmente se manter viva num país que é impossível uma mulher viver de maneira "livre".
Essa parte será mais fluída, porque os versos são autoexplicativos e eu não preciso pirar pra explicar o que entendi.
"A última volta que o ar deu pelos pulmões de Frida Khalo", Frida foi uma pintora mexicana, patriota, comunista e revolucionária, e a versão oficial da morte dela foi vítima de embolia pulmonar.
"A vida desnuda, marcas, celulite", acho que evidencia que a celulite, as marcas, cicatrizes, são algo natural a pessoas nuas, nesse caso, a vida levada de maneira nua, sem nada omitindo, é natural que tenhamos marcas referentes a alguma passagem.
"Um trapezista equilibrando drogas pra labirintite" a labirintite é uma inflamação dos nervos do ouvido interno, e um dos principais sintomas é a sensação de tontura, o tratamento é feito com remédios, logo o trapezista se equilibrando, me remeteu as pessoas que fazem tratamento, não de labirintite em específico, mas algo amplo, em que a pessoa necessita de ajuda de medicamentos para não "desequilibrar".
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Elvis e a menina Joanne |
"Elvis com poliomielite, rouquidão de uma sereia." A poliomelite é uma doença viral que destrói as células da medula e pode causar paralisia, tiveram alguns casos de epidemia, e por volta de 1950 foi desenvolvida a vacina e uma ação em massa para o combate. Em 1956, Elvis tomou a vacina e fez parte de uma campanha de conscientização, onde ele conheceu a menina propaganda Joanne Kelly, no mesmo ano ele lançou um disco para obter fundos para as obras assistenciais. Nesse caso, a rouquidão faz menção a voz de Elvis; a lenda das sereias, dizem que o canto delas atrai, nesse caso, a voz de Elvis atraiu olhares e atenções para a causa da poliomelite. Acho que esse verso vem num sentido também de conscientização, me autorizo a afunilar pro rap, pra onde será que as vozes dos MC's tem chamado atenção?
A sequência de versos diz muito sobre tristezas, opressões, decepções, "Judas na Santa Ceia, pedra num vespeiro" Judas foi um dos 12 discípulos de Jesus, ele teve o coração convertido em ódio pelo diabo cristão e acabou por trair Jesus; a pedra no vespeiro, vem como algo que pode perturbar a calmaria, a paz, entendi esse verso ao melhor estilo "sempre vai ter um pra testar sua fé", é preciso estar sempre atento ao que pode chegar, as pessoas a quem confiamos.
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Câmara de gás no campo principal de Auschwitz |
"Uma câmara de gás tentado parecer um chuveiro" Esse foi um dos versos que me fez engolir seco. No período da 2 Guerra Mundial, Hitler comandou o nazismo e suas filosofias doentias. Os campos de concentraçao onde aconteciam as inumeras mortes de judeus, aconteceram em salas para onde eles foram conduzidos, acreditando que estavam indo tomar um inocente banho. Essa linha é pesada, mas assim como a anterior, diz muito sobre como devemos ter cuidado com o confiar, existem aos montes pessoas ruins fingindo ser o que não é.
"Uma mãe de Maio, o peso de um vão" o Movimento Mães de Maio foi fundado depois da morte de 564 pessoas durante 10 dias em 2006; o peso de um vão é justamente a dor dessas mães, o vazio da perda dos filhos assassinados, além de também representar o peso que essa perda causou, no sentido de organização dessas mulheres, que na dor conseguem ainda dar o peito pra outras mães chorarem.
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Ato Mães de Maio |
"Mil formas de amor em espectros de autismo" o autismo ou transtornos do espectro autista, são transtornos que causam problemas na capacidade de se comunicar e interagir, quando Gugu coloca o amor em espectros de autismo, ele esta dizendo sobre nossa falha forma de demonstrar amor, entre outros sentimentos. A forma como falhamos em ser simples e objetivos com quem amamos.
A próxima sequência de versos me remeteu ao sentido de liberdades. "No batismo o neném que se afoga", nessa parte eu posso estar interpretando muito fora, mas entendi de maneira de "impor" uma religião a um bebê que ainda não sabe como vai entender e sentir a vida, a fé. Não que seja algo torturante, mas o simbolismo, de batizar uma criança ainda criança com algo que os pais e a família acreditam, e pode não ser o que a criança acreditará. "E um judeu forçado a pintar suásticas numa sinagoga", a sinagoga são os templos da religião judaica, a suástica embora seja um símbolo usado por muitas religiões, foi o símbolo adotado por Hitler como representação nazismo, forçar um judeu a fazer uma suástica numa sinagoga é de uma violência extrema por tudo que o símbolo representa para esse povo, que foi perseguido e morto na época do nazismo. Acho que isso diz muito sobre a imposição de nossas crenças sobre as pessoas, violentar o direito e a liberdade a fé individual de cada pessoa.
"Toda luta tem dois lados, espelhos a narcisos cegos". Narciso na mitologia grega, era um herói famoso por beleza e orgulho, e de acordo com o mito, o segredo para ele ter uma vida longa é que ele nunca visse seu próprio rosto, ele acabou olhando o reflexo dele na água e se apaixonando, e definhou no leito do rio; acredito que nesse trecho, Gugu tenha nos alertado, sobre como somos todos belos e dotados de qualidades mas também com defeitos, o espelho seria essa autoavaliação mesmo que devemos fazer ao olhar pra si, e cegos, porque muitas vezes deixamos de nos contemplar, nos criticar, apenas olhando pro próximo, sem avaliar as próprias condutas.
"Sim somos Cristo: coroas só depois dos pregos!" A coroa de espinhos foi a forma que os soldados romanos encontraram para zombar do fato de Jesus se dizer rei. A coroa acabou por tomar além do significado do sofrimento, a coroação de glória e de honra pelo que ele fez. O verso antecede o refrão que nos fala sobre esperança na vida, então acredito que ele quis fazer uma analogia, que sim, para que cheguemos ao fim do sofrimento, a coroação de fato, é preciso passar por toda zombaria e dificuldades anteriores.
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