Sequestro e internação ilegal de transsexual
Estou agoniada. Não quero ficar parada nenhum dia”. Com essa frase Bianca (22 anos), uma mulher trans negra e moradora de São Gonçalo (RJ) fala sobre a luta por encontrar sua esposa, Bruna (23 anos), internada contra vontade em uma clínica psiquiátrica por sua própria mãe, Margarida.
Nesta quinta-feira (11), Bianca relata que à pedido de sua sogra, Bruna foi internada contra vontade em uma clínica psiquiátrica. Desde então Margarida tem ignorado os pedidos de sua nora por mais informações de Bruna. Desde então Bianca tem incansavelmente pedido auxílio para que as pessoas a ajudem a estar novamente ao lado de sua esposa.
OS SONHOS
Em 2014 Bruna e Bianca se conheceram no Facebook e, aos poucos, se tornaram grandes amigas. Bruna falava sempre sobre sua vontade de realizar a transição de gênero mas que tinha muito medo de ser rejeitada por sua família: sua mãe e seu padrasto.
Com o passar do tempo as duas criaram um amor muito forte e profundo entre si, que se transformou em namoro. Fugindo de problemas, Bruna escondeu durante dois anos seu desejo de se transicionar.
Depois de muito tempo, Bruna percebeu que não conseguia mais conviver com um corpo de homem. Não se via como homem e se sentia presa. O casal então decidiu ir para Belo Horizonte (MG) tentar viver a vida que sempre sonharam.
Levando apenas as roupas do corpo, conseguiram apoio de algumas pessoas e passaram a morar em uma ocupação onde logo conseguiram começar a trabalhar em um bar como garçonetes.
Já transicionando, Bruna descobriu sua nova paixão: escrever. Já com alguns poemas, lançou alguns livretos que eram bem recebidos pelo público. Seu sonho então era conseguir escrever e lançar um livro de poesias.
O COMEÇO DOS PROBLEMAS
Enquanto estavam em Belo Horizonte, Margarida tentou retomar o contato com sua filha. Conforme conta Bianca, sua sogra disse a Bruna que a aceitava enquanto filha e que gostaria de entender mais o que era ser transsexual. Disse então que construiu uma casa para ela,no terreno onde vivia, para que o casal pudesse morar perto dela.
Já em São Gonçalo, Bruna e Bianca perceberam que não tinham o retorno financeiro comparativamente a Belo Horizonte e decidiram voltar para a cidade e alugar a casa que Margarida tinha construído como forma de complementar a renda e poderem ter uma vida mais confortável em Minas Gerais.
A INTERNAÇÃO
Margarida não aceitou a decisão de Bruna. No relato de Bianca, sua sogra se descontrolou é passou a fazer uma série de ataques transfóbicos à filha e à nora, inclusive direcionando ataques racistas à Bianca afirmando que todas as pessoas negras são usuárias ou traficantes de drogas e que viver ao lado de Bianca traria sérios problemas à Bruna, além de afirmar diversas vezes que ser travesti é uma doença.
Nesta quinta-feira (11), às 11h da manhã, Margarida pediu para falar com sua filha. Bruna saiu de casa e logo foi segurada à força por sua mãe. Na sequência apareceram dois homens que, apertando Bruna, a agrediram e a medicaram com um tranquilizante. Bianca tentou intervir e foi agredida e enforcada aos gritos de que “travesti é macho, vou encher vocês de soco”. No relato de Bianca, Margarida assistia a tudo isso dizendo que estava internando sua filha porque essa vida de travesti a estava “destruindo” e afirmando que poderia fazer o que quisesse por ser mãe.
INTERNAÇÃO ILEGAL
De acordo com Bianca todo o processo de internação ilegal.
Inicialmente não havia nenhum diagnóstico que justificasse a internação como o uso de drogas ou algum quadro clínico, o que fez com que Margarida alegasse como motivo o fato de Bruna ter sofrido de epilepsia na adolescência e, na época, ter tomado algumas medicações, ainda que depois disso não tenha passado por nenhuma situação de crise mesmo sem o uso da medicação
Além disso, é solicitado que as internações realizadas através de familiares exijam documentações da pessoa em sofrimento e, como informou Bianca, todos os documentos de Bruna estavam com sua esposa e não com sua mãe.
Tentando contato com a sogra após o ocorrido, Margarida se limitou a dizer que Bianca poderia visitar Bruna a cada 15 dias, sem informar onde sua filha foi internada.
Desnorteada e sem conseguir dormir, preocupada com Bruna, Bianca tem recorrido a amigos próximos pedindo auxílios e diz: “Isso que a mãe dela fez foi um sequestro”.
Eu passei por isso na década de 80 e é inadmissível que nos dias de hoje isso continue acontecendo! MP na mãe e na clínica.
ResponderExcluirGente, isso que a mãe dela fez é ilegal realmente e essa clinica parece no mínimo suspeita. Aconselho aos amigos e bianca a procurarem o ministério público para denunciar. Também poderia procurar o CREAS -centro de referencia da assistencia social- da cidade, pois esse é um equipamento que orienta e acompanha pessoas que passam por violação de direitos.
ResponderExcluirProcuraram a comissão de direitos homoafetivos da OAB?
ResponderExcluirEstou torcendo por vocês terem o direito de ser quem quer ser.