As mina sempre foram pow!
As mulheres sempre fizeram parte da história do Hip Hop no Brasil e no mundo. Era questão de tempo pra tomarem tudo de assalto, e se fazerem protagonistas do próprio talento. Hoje é dia internacional das mulheres, um dia de luta, com várias homenagens rolando, e é sempre bom lembrar o porque as minas sempre foram POW!
Analisando as idéias lançadas há milianos pelas MCs nacionais e comparando com o que muitas minas seguem gritando nos mics, é fácil notar a batalha difícil que as mulheres têm na cena pra receber igual respeito em relação aos homens. O mundo misógino e machista historicamente, não poderia deixar de influenciar também a indústria musical. O Brasil tem na sua história musical diversas cantoras que tomaram a frente de lutas sociais, expressando através de suas composições suas posições contra o machismo, violência, preconceito, etc. Montamos uma pequena lista com algumas músicas de MCs femininas que nos ajudam a trilhar um histórico das mulheres no Rap, e também a pontuar algumas coisas através das letras.
Uma das mais influentes artistas a entrar no universo das referências, foi a rapper Dina Di (1976 - 2010), vocalista do grupo Visão de Rua. Dina Di cantava a vida da mulher na periferia. Em depoimento ao curta-metragem Guerreiras do Rap (2003), Dina Di fala sobre a postura nas músicas, “eu gosto de expor a realidade que eu vivo, falar sobre a minha realidade, sobre a realidade de várias mina aí, que eu vejo aí no dia a dia. É importante falar da mulher. Os homens já têm os homens para falar, a gente tem que falar de nós”. Ao analisar composições como Mulheres de Fato, Mulher de Bandido, encontramos descrições de situações vivenciadas por mulheres, que envolvem o machismo, o assédio, a realidade das mulheres esposas de homens em situação de reclusão. Situações que dialogam diretamente com as mulheres.
Dina Di |
Primeiro cada mulher tem seu potencial
segundo, cada qual sua capacidade
armas que podem ser usadas como bem quiser,
na hora exata, na luta, em defesa, sabe como que é
(...)
1999, Visão de Rua, vai mandar de igual para igual
para muitos otários que não acreditam
na capacidade da mulher no rap nacional,
nós está (sic) aí, boto (sic) bases,
mulheres de fato provando o contrário
(Mulher de Fato, Visão de Rua)
O rap é visto por todas como a reinvenção da cultura, dos modos e costumes que oprimem, no caso, o machismo. Sendo assim, o Rap cantado por mulheres, acaba sendo a voz de quem acredita na transformação, na chamada pra mudança. Em Larga o Bicho, em 2002, Nega Gizza nos traz um exemplo, do discurso que reordena visões sobre as minas, e empodera mulheres.
Nega Gizza |
Sou mulher, mas não sou tão frágil ou tão delicada
Meu microfone é a minha arma
Minha palavra é como uma espada
O rap não é privilégio do homem
Já vencemos esse desafio
(Larga o Bicho, Nega Gizza)
Esse ano já começou marcado por algumas denúncias de violência contra a mulher dentro do Hip Hop, casos evidenciados que não são exclusividades do meio. Atitude Feminina, em 2006, mostrou de maneira bastante combativa, a situação da violência doméstica, em sua letra “Rosas” trouxe à tona uma voz feminina que denuncia as violências a que foi submetida.
Grupo Atitude Feminina |
Eu estava feliz no meu lar doce lar
Sua roupa, olha só, tinha prazer de lavar
Mas "alegria de pobre dura pouco", diz o ditado
Ele ficou diferente, agressivo, irritado
Chegava tarde da rua, aquele bafo de pinga
Batom na camisa e cheiro de rapariga
Nem um ano de casado, ajuntado, sei lá
Não sei pra que cerimônia, o importante é amar
Amor de tolo, amor de louco, o que foi que aconteceu?
Me mandou calar a boca e não me respondeu
Insisti, foi mal, ele me ba teu
No outro dia me falou que se arrependeu
Quem era eu pra julgar? Queria perdoar
Hoje estou feliz o meu amor veio me visitar
(Rosas, Atitude Feminina)
Há um encontro entre todas as composições das rappers mulheres e a luta feminista, mas no rap das mulheres negras, existem ainda mais reinvidicações, o feminismo negro pautado nos estereótipos vinculados a questão racial. A rapper Sharylaine, iniciou sua caminhada no hip hop em 1986, sendo a primeira mulher a fazer um registro musical no rap. Da fundação do primeiro grupo de rap feminino no Brasil, o Rap Girls, até a criação e consolidação do Fórum Nacional de Mulheres do Hip Hop, Sharylaine segue carreira, e embora muitas vezes foi invisibilizada pelo racismo, suas ideias sobrevivem através dos tempos, na música Brasileiras, em 2011, Sharylaine relata a situação da mulher brasileira.
Sharylaine |
É preciso investir na não violência,
despertar na população consciência,
exigir efetivas providências e acesso,
brasileiras sempre contribuem para o progresso
...
Ocupar os espaços,
aqui, ai, ali,
conserve a força e a energia que há dentro de ti,
encontre seu melhor para se permitir,
mulher,
renasça denovo pra vida,
arranque do corpo e da alma,
toda ferida!
(Brasileiras, Sharylaine)
Pontuamos apenas algumas músicas de mulheres brasileiras para mostrar que a articulação no combate ao machismo e na luta feminina para promover as mulheres no rap acontece desde muito tempo. Contudo, para mudar a cena de todos os espaços que nos fazemos presentes, é preciso que cada vez mais nos apoiemos umas nas outras pra tornar as mulheres protagonistas de sua história. No Hip Hop, sempre apontar o machismo dos espaços, e lutar para a visibilidade da galera que fecha com o respeito. Parafraseando as minas do Rap Plus Size, não adianta passar pano, que o pano rasga, protetor de machista é machista da mesma laia!
Confiram os sons dos trechos citados na matéria aqui:
1999 - Visão de Rua - Mulher de Fato
2002 - Nega Gizza - Larga o Bicho
2006 - Rosas Atitude Feminina
2011 - Brasileiras - Sharylaine
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