Polícia mata, governo mente e movimento negro convoca protesto


*Charge de Latuff, especial para Campanha Contra o Genocídio do Povo Negro em SP

“Cê viu ontem? Os tiro ouvi de monte! Então, diz que tem uma pá de sangue no campão.” Ih, mano toda mão é sempre a mesma ideia junto: treta, tiro, sangue, aí, muda de assunto…”

Racionais Mc’s


Por Douglas Belchior

Noite de terça feira, 9 de dezembro, Jd. São Luiz, Zona Sul de São Paulo. Depois da prisão de um “suspeito” por tráfico de drogas, um corre corre. Thiago Vieira da Silva, 22 anos, enquanto gritava por socorro, é assassinado a tiros pela polícia. 10 tiros! Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de SP diz que houve um tiroteio. Moradores que testemunharam dizem que não. A reportagem da RedeTV – que produziu matéria a partir de vídeo amador – reafirma a versão dos moradores: “De um lado da rua, há diversos fragmentos de bala e perfurações na parede e em carros estacionados. O outro lado está intacto”. A direção da PM diz que foi encontrado um revólver calibre 38 ao lado do corpo do rapaz morto. Com Leandro Pereira dos Santos, de 20 anos, preso em flagrante, teria sido encontrada uma bolsa com 80 papelotes de maconha, 219 pinos de cocaína, 58 frascos de lança perfume, 34 pedras de crack, além de R$ 14,80 e um telefone celular. Moradores dizem que não: “Ninguém se lembra de sequer ter visto a mochila”. Depois de tudo, testemunhas relatam que os policiais voltaram a intimidar moradores em busca de gravações de celulares. Para fechar com chave e ouro, os policiais que mataram o rapaz não foram afastados! Deverão continuar mantendo a segurança e a paz de cemitério na região.

Quarta feira, 10 de Dezembro, 5h30 da manhã. Dois jovens, um de 18 outro de 19 anos, são assassinados a tiros no Jardim Brasil, bairro periférico da Zona Norte de São Paulo. Moradores acusam a polícia pelas mortes. A polícia diz ter sido chamada por conta de um tiroteio entre traficantes. Não há marcas de balas na comunidade. Ninguém confirma o tiroteio. Segundo a família, um deles sofria permanentes ameaças por parte da polícia.

“Essas foram as notícias de hoje”. Mas aconteceu ontem e se repetirá amanhã. E não só em São Paulo, também no Pará, na Bahia, o Rio de JaneiroEm todo país. O modelo de segurança pública responde à um projeto de proteção ao patrimônio privado, à manutenção de privilégios e à criminalização da pobreza e da população negra.

Segundo pesquisas mais recentes algo em torno de 82 jovens entre 16 e 29 anos são assassinados a cada 24 horas. Entre eles, 93% são do sexo masculino e 77% são negros. A polícia, que deveria proteger garantir e preservar a vida, é promotora da morte e age seletivamente, quando não prendemata três vezes mais negros que brancos.

Eis o mantra de quem defende direitos humanos: Repetir que, por mais que cidadãos estejam infringindo a lei, não é permitido ao policial o poder de prender, julgar, condenar e executar. Ainda que fosse, não há pena de morte no Brasil – ao menos no papel. O agente público não pode matar. Mas o faz! E de maneira deliberada, sistemática, quase como uma atribuição de sua função.

2014 entra para a história como um dos anos mais sangrentos em São Paulo. O governador Alckmin e sua polícia conseguiu matar mais nos últimos 11 meses (506 até novembro) do que em todo 2006, ano em que a polícia revidou os chamados “ataques do PCC” e ceifou 495 vidas. Aliás, época de governo Alckmin também, que havia se licenciado para concorrer à presidência da república. Ou seja, Alckmin católico fervoroso, alcançou a proeza de quebrar seu próprio recorde! Mas o que dizer sobre o quinto mandamento?

Esses casos são típicos. Práticas de execução sumária. O primeiro, com o garoto Thiago, é emblemático: Há testemunhas e gravações audiovisuais. E diante das provas, o que temos? Uma Secretaria de Segurança Pública que mente; Um governo que promove e acoberta uma instituição criminosa; e um exército mortal que, em serviço e fora dele, cumpre com excelência seu papel: Mata preto e mata pobre, todos os dias!


FERGUNSON É AQUI! O povo negro quer viver!

Movimento Negro convoca protestos contra violência da polícia em SP


Movimentos Negros apoiados por organizações sociais, estão convocando protestos em solidariedade aos negros norte-americanos que há semanas promovem grandes mobilizações nos EUA.

Trata-se de um ato contra a violência racista da polícia e do Estado, no Brasil, nos EUA e no mundo.

A mobilização está marcada para próximo dia 18 de dezembro, quinta feira, com concentração às 16h00, na Praça da República, centro de São Paulo. Convocam os protestos a Uneafro-Brasil, Levante da Juventude, Círculo Palmarino,Quilombação, MTST, Mães de Maio, entre outros.

Saiba mais na página do movimento. Confirme e compartilhe o Evento no Facebook.


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