Central Hip Hop Entrevista a Rapper Moçambicana/Portuguesa Dama Bete
Ela tem o corpo franzino e uma voz frágil. Parece uma adolescente, mas é uma mulher determinada. Atualmente, ela é umas das poucas mulheres em evidência num mundo masculino do Rap português. Essa determinação, que se destaca na sua música, também a ajudou a enfrentar as dificuldades da vida. Essa é Dama Bete, rapper de origem moçambicana. Muito cedo, logo aos dois anos de idade, foi morar com sua mãe e seu irmão, em Portugal. Saiu de lá fugindo da fome e da guerra civil, que perdurou no país até 1992...
A imagem de Bete confronta com suas letras e atitude. Em Portugal foi morar num bairro de classe média. Na escola, tirava boas notas. Escrevia poesias e até ganhou um concurso. Pensava em ser médica, como queria seu pai, que é português de origem indiana. Ainda na escola, percebeu que era diferente, pois não tinha as mesmas oportunidades que seus colegas tinham e, assim, passou a ter amizades com adolescentes de outros bairros mais pobres.
Neste momento percebeu que havia outras realidades. Hoje, essa percepção se reflete em seu trabalho. Bete diz que suas letras tratam de denúncia também. Longe da presença do pai, Bete teve seu irmão como referência, que também cantava Rap: “Um dia ele (irmão) e um amigo começaram a rimar. Fui observando como é que eles faziam as rimas... Quando ele saía, eu ia para lá e gravava as minhas cenas”, diz Bete.
A rapper circulou num ambiente predominantemente masculino, situação que não a intimidou, foi uma das primeiras mulheres do Rap de Portugal a assinar com uma grande gravadora. Seu disco “De Igual para Igual”, lançado em 2008, tem onze faixas com bases modernas e letras questionadoras, a primeira faixa, “Dama no Rap”, sintetiza bem sua vivência nesse meio masculino. Há também espaço para músicas questionadoras, como “Missão a Terra” e “Família Feliz”, e também para o amor, como em “Definição de Amor”. Bete sofreu influência da música brasileira, como ficou evidente na sétima faixa do disco, “Selva”, um Samba-Reggae.
Durante entrevista exclusiva concedida ao Central Hip-Hop/BF, Bete diz que é fã de ritmos brasileiros como a Bossa-nova: “Adoro Tom Jobim, Vinícius e Cibelle”. Cibelle, é uma brasileira, radicada em Londres desde 2002, que mistura música eletrônica, tropicalismo e Bossa-nova. Bete diz também que sempre procura trazer a sua raiz africana além de manter-se atenta ao Rap que se faz por todos os países da língua portuguesa, desde Moçambique à Angola, Cabo Verde e o Brasil.
Central Hip-Hop (CHH): Você começou a rimar por influência do seu irmão. Fale um pouco sobre isso.
Dama Bete: Eu desde pequena gostava de imitar o que o meu irmão fazia. O meu pai sempre viveu fora e eu acabava por achar que o meu irmão é que sabia tudo. Um dia ele e um amigo começaram a rimar. Eu fui observando como é que eles faziam as rimas. Como é que colocavam pra gravar na aparelhagem, e quando ele saía, eu ia para lá e gravava as minhas cenas (os meus sons). Depois comecei a mostrar as músicas aos meus amigos. Eles me apoiaram. Com o passar do tempo, o meu irmão levou a sério o que eu fazia e começou a me ajudar fazendo os beats.
CHH: O que mudou em você desde o lançamento do disco “De Igual Para Igual”?
Dama Bete: A minha vida tornou-se um pouco pública. Há rumores, há pessoas que me reconhecem na rua. Muitas pessoas pedem ajuda para diferentes coisas. Desde ajuda para fazer música, ajuda para arranjarem gravadora, ajuda para angariar fundos. Sei que não posso ajudar toda a gente...
Mas há coisas positivas. Passei a ter patrocínio da Nike. Às vezes tenho sessões de fotos. Em época de shows, durmo em hotéis que nunca na vida pensei vir a dormir e conheço lugares que nunca pensei vir a conhecer. É uma vida um pouco diferente da que estava habituada. Mas estou me acostumando aos poucos.
A imagem de Bete confronta com suas letras e atitude. Em Portugal foi morar num bairro de classe média. Na escola, tirava boas notas. Escrevia poesias e até ganhou um concurso. Pensava em ser médica, como queria seu pai, que é português de origem indiana. Ainda na escola, percebeu que era diferente, pois não tinha as mesmas oportunidades que seus colegas tinham e, assim, passou a ter amizades com adolescentes de outros bairros mais pobres.
Neste momento percebeu que havia outras realidades. Hoje, essa percepção se reflete em seu trabalho. Bete diz que suas letras tratam de denúncia também. Longe da presença do pai, Bete teve seu irmão como referência, que também cantava Rap: “Um dia ele (irmão) e um amigo começaram a rimar. Fui observando como é que eles faziam as rimas... Quando ele saía, eu ia para lá e gravava as minhas cenas”, diz Bete.
A rapper circulou num ambiente predominantemente masculino, situação que não a intimidou, foi uma das primeiras mulheres do Rap de Portugal a assinar com uma grande gravadora. Seu disco “De Igual para Igual”, lançado em 2008, tem onze faixas com bases modernas e letras questionadoras, a primeira faixa, “Dama no Rap”, sintetiza bem sua vivência nesse meio masculino. Há também espaço para músicas questionadoras, como “Missão a Terra” e “Família Feliz”, e também para o amor, como em “Definição de Amor”. Bete sofreu influência da música brasileira, como ficou evidente na sétima faixa do disco, “Selva”, um Samba-Reggae.
Durante entrevista exclusiva concedida ao Central Hip-Hop/BF, Bete diz que é fã de ritmos brasileiros como a Bossa-nova: “Adoro Tom Jobim, Vinícius e Cibelle”. Cibelle, é uma brasileira, radicada em Londres desde 2002, que mistura música eletrônica, tropicalismo e Bossa-nova. Bete diz também que sempre procura trazer a sua raiz africana além de manter-se atenta ao Rap que se faz por todos os países da língua portuguesa, desde Moçambique à Angola, Cabo Verde e o Brasil.
Central Hip-Hop (CHH): Você começou a rimar por influência do seu irmão. Fale um pouco sobre isso.
Dama Bete: Eu desde pequena gostava de imitar o que o meu irmão fazia. O meu pai sempre viveu fora e eu acabava por achar que o meu irmão é que sabia tudo. Um dia ele e um amigo começaram a rimar. Eu fui observando como é que eles faziam as rimas. Como é que colocavam pra gravar na aparelhagem, e quando ele saía, eu ia para lá e gravava as minhas cenas (os meus sons). Depois comecei a mostrar as músicas aos meus amigos. Eles me apoiaram. Com o passar do tempo, o meu irmão levou a sério o que eu fazia e começou a me ajudar fazendo os beats.
CHH: O que mudou em você desde o lançamento do disco “De Igual Para Igual”?
Dama Bete: A minha vida tornou-se um pouco pública. Há rumores, há pessoas que me reconhecem na rua. Muitas pessoas pedem ajuda para diferentes coisas. Desde ajuda para fazer música, ajuda para arranjarem gravadora, ajuda para angariar fundos. Sei que não posso ajudar toda a gente...
Mas há coisas positivas. Passei a ter patrocínio da Nike. Às vezes tenho sessões de fotos. Em época de shows, durmo em hotéis que nunca na vida pensei vir a dormir e conheço lugares que nunca pensei vir a conhecer. É uma vida um pouco diferente da que estava habituada. Mas estou me acostumando aos poucos.
CHH: Como os portugueses encaram uma mulher fazendo Rap? Uma mulher que, a princípio, parece frágil, meiga, mas faz fortes letras de denúncia? Você sofreu algum tipo de resistência por ser mulher?
Dama Bete: Eu penso que ainda não aceitam o meu Rap como “verdadeiro”. Confudem um pouco com o R&B. Isto por eu ser mulher.
CHH: Sua mãe é moçambicana e você nasceu lá. Você acha que essa raiz influenciou sua música?
Dama Bete: Sim, influenciou muito. Desde criança que ouço música moçambicana. O primeiro rapper que me chamou a atenção em portugal foi o General D. Um rapper moçambicano que fez sucesso em Portugal na década de 90. Quando faço música tento sempre ter presente a minha africanidade.
CHH: Aqui no Brasil, os artistas que fazem Rap lançam seu trabalho de forma independente, não por uma grande gravadora como você. O cenário musical para o Rap aqui ainda parece amador. Neste sentido como está o cenário aí em Portugal?
Dama Bete: Em Portugal, a indústria musical é muito pequena. Uma major (grande gravadora) aqui não tem um papel e desempenho de uma major lá fora. Há vários artistas em majors. Outros em gravadoras independentes, mas com a distribuição em majors. É um mercado pequeno. Mas penso que está ganhando consistência. Há bons rappers. E, cada vez mais, aparecem cenas novas e originais.
CHH: Você ouve música brasileira e conhece algum artista que faz Rap no Brasil?
Dama Bete: Eu sou fã da Bossa nova. Adoro Tom Jobim, Vinicius, Cibelle. Também adoro a percussão brasileira como a do Samba-reggae. No meu álbum tentei recriar no tema “selva”.
Conheço vários rappers do Brasil. Os que são mais conhecidos em Portugal são: Marcelo D2, o Gabriel o Pensador e os Racionais MCs. Todos esses já passaram por aqui. Fui conhecendo alguns artistas através do Myspace. Mantenho contacto com a DJ Cínara, que me tinha falado em fazer um som com a Quelynah. Mantenho também contacto com o Vulgo WT. Com a Tiely Queen. Conheço o trabalho de muitos outros artistas. Tento sempre ficar a par do que se faz por todo a lusofonia. Desde Moçambique, a Angola, Cabo Verde e claro, o Brasil. O que mais gosto é Marcelo D2, porque a música dele está muito presente no mercado português.
Paz a todos e vamos mantendo contacto!
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